Prova na França reforça tradição do evento. Estados Unidos lutou, mas ainda não recuperou o Chamberlain Trophy.
Redação MotoX.com.br - Texto: Edu Erbs - Fotos: Ray Archer/ Divulgação Fábricas
Equipe francesa comemora a segunda vitória consecutiva
Quem acompanha o
MotoX no Facebook pôde ver uns pequenos relatórios que escrevi depois das provas do Motocross das Nações, durante o sábado e o domingo. E, como prometido, aqui vai uma coluna com um pouco mais de detalhes do que vi e conclui depois da mais importante prova da temporada.
Em primeiro lugar, tenho que confessar que a princípio tinha algumas dúvidas sobre o sucesso da prova, principalmente pelo fato de nomes como Dungey, Roczen, Reed, Desalle, Cairoli e Herlings, dentre outros, desfalcarem o repertório do evento.
Entretanto, o fotógrafo Simon Cudby me assegurou que a paisagem da pista seria sensacional, e o mesmo também me deu uns toques sobre a riqueza histórica do local, o que me deixou um tanto instigado, pois apesar de não ser um especialista no assunto, as histórias da Segunda Guerra Mundial realmente me fascinam.
Para quem não sabe, aquela região foi completamente tomada pelo exército nazista, mas em 1944, a invasão dos aliados (Estados Unidos, Canadá e Escócia) conhecido como o "The D Day" - que libertou a França do comando de Hitler - começou naquela região; e muitos artefatos históricos como tanques de guerras, canhões, mísseis e até bases militares nazistas despedaçados e rodeados de crateras feitas pelas bombas daquela época, estão ali para todos verem. A região em si é linda e realmente fascinante, pois é dividida entre a modernidade com campos rurais e construções do século XVI. Realmente indescritível.
Com foco na prova agora: assim que pisei no circuito e observei a pista tive uma prévia do que seria o show no domingo. O circuito foi construído em um terreno íngreme, todo contornado por um gramado perfeito, e um pequeno córrego separando-o do público.
Gautier Paulin
Alguns pilotos e times criticaram a pista. Primeiramente pelo fato do layout ser um pouco old-school, e - talvez - não ter sido adaptado para as motos quatro tempos. Também era claro que em algumas áreas o circuito parecia bastante estreito; mas, eu gostei do traçado, e no final das contas, o fato das subidas pesadas favorecerem as motos menores somente favoreceu o espetáculo.
O time da casa venceu as três provas do sábado, garantindo a pole position em todas as classes. Infelizmente outro destaque do dia foi o terrível acidente sofrido por Max Anstie que, depois de deixar o motor de sua KX-F apagar, foi usado como pista de aterrissagem por outro piloto, obrigando-o a deixar o local de ambulância. Max acabou quebrando a escápula e a vértebra T3, e espera fazer uma recuperação completa para o início da temporada 2016. Com isso o time britânico perdeu a chance de algum resultado expressivo na competição - eles seriam a minha escolha para a medalha de bronze.
Justin Barcia
Justin Barcia
No domingo, a final B viu o Japão levar a melhor, garantindo a classificação para a final. A prova foi completamente dominada pelo atual campeão mundial Tim Gajser. O Brasil teve uma excelente atuação no início da prova, com o aniversariante Thales Vilardi largando na segunda posição e com Jean Ramos apresentando uma pilotagem confortável na quarta posição, até que se enroscou com outro piloto e acabou caindo. Com Thales perdendo posições e Fábio Santos largando no pelotão de trás, o Brasil mais uma vez ficou de fora da final - a última participação foi em 2010 no Colorado. É claro que mais uma vez vem à mente algumas das razões pelas quais o Brasil poderia estar na final, mas não está; entretanto esse assunto já foi discutido e rediscutido em colunas passadas então só me resta parabenizar mais uma vez a iniciativa do Cacau, por levar o projeto da competição nas costas, e aos pilotos por fazerem o seu melhor a representarem à pátria amada.
A primeira prova das finais ficou por conta das categorias MXGP x MX2. A prova teve um começo eletrizante, com a briga entre Barcia (MXGP) vs Musquin (MX2): o francês levou o público ao delírio ao dar uma passada no americano, mas Barcia revidou. Para completar, Musquin errou e caiu, assim como o seu compatriota Gaultier Paulin, deixando o time da casa em déficit e o americano com a liderança.
Jeremy Martin
A segunda bateria foi protagonizada pelos pilotos da MX2 e da Open. O público assistiu o herói francês Romain Febvre levar vantagem sobre o americano Cooper Webb. Mais uma vez Musquin acabou a prova na frente de Jeremy Martin, enquanto os franceses mutilaram uma boa parte da liderança americana, deixando a decisão para a bateria final.
Na final, os americanos claramente perderam a prova nos três primeiros segundos depois do gate cair. Mesmo com Justin Barcia fazendo uma excelente prova, Romain Febrve foi mais uma vez imbatível e um mero quinto lugar de Paulin foi o suficiente para os franceses baterem mais uma vez os americanos - desta vez por somente dois pontos - e fazerem a festa dos milhares de torcedores fanáticos no local.
Ken de Dycker
Com a quarta derrota consecutiva do time americano, um novo recorde de "insucessos" foi estabelecido desde o início dos anos 80 quando os americanos começaram a disputar a competição. O que acho interessante é que a cada ano que os americanos não saem vitoriosos, algumas expressões como "alvo em nossas costas" ou " USA x o resto do mundo" são usadas cada vez menos. E depois da desastrosa temporada de Villopoto, a vitória de Romain Febvre em Glen Helen e a quarta derrota do time, a mídia e os fãs acabaram aprendendo e dando o devido respeito aos pilotos de outros países e às outras organizações que não seja a AMA.
Desta vez, mais do que nunca, foi visível que os americanos deram o melhor de si, o equipamento estava perfeito e não tiveram uma razão específica do porquê não vencerem a competição, além do fato dos franceses terem sido superiores.
Entre alguns fatos do final de semana tenho a destacar:
Romain Febvre
Romain Fevbre pode ser apontado (assim como Ryan Dungey) como um dos melhores pilotos da atualidade. Romain provou mais uma vez, que o seu campeonato não foi conquistado somente pela ausência de grandes nomes, mas sim por uma pilotagem calculada, ótimo condicionamento físico e um grande time lhe dando suporte. Cairoli terá algum trabalho a fazer se quiser reconquistar sua coroa em 2016.
Mesmo desfalcados, os Red Knights da Bélgica nunca podem ser contados de fora. Mesmo com uma esmagadora margem de 32 pontos de diferença, Ken De Dycker, Jeremy Van Horebeek e Julien Lieber acabaram no pódio mais uma vez.
Shaun Simpson
O até então aposentado Ben Towley deu o que falar! O piloto da Nova Zelândia fez baterias excelentes durante todo o final de semana. Destaque para a sua segunda colocação na terceira prova do domingo, logo atrás de Febvre.
Mesmo com um histórico excelente na competição, Gaultier Paulin não conseguiu repetir uma grande atuação no domingo. Fica claro que a mudança da Factory Kawasaki para a HRC Honda tem afetado bastante nos resultados do piloto, que também se recupera de uma contusão no joelho. Possível causa de ausência do piloto no Monster Energy Cup em duas semanas.
Pauls Jonass optou por não correr no domingo devido à forte queda no sábado. Piloto e equipe decidiram fazer um reset depois de suas últimas provas nos GPs terem sido marcadas por quedas espetaculares e desgastantes.
Vídeos:
Notícias extras:
Finalmente a contratação de Clement Desalle pela Factory Kawasaki se tornou pública nesta semana. De carona, Alexandr Tonkov também anunciou sua contratação pela Standing Construct Yamaha.
Algumas fotos nas mídias sociais também já apresentam novidades do próximo ano. A equipe da Troy Lee Designs, além de Jesse Nelson e Shane McElrath, empregará Justin Hill, já que a equipe se torna o time de fábrica KTM em 2016. Outros pilotos ainda amadores da Orange Brigade também já vestem as cores do time, como Alex Frye e Mitch Falk.
Quem segue Herlings nas mídias sociais pode notar alguns posts um tanto sentimentais sobre a temporada do ano que vem. Em um deles sobre "novas pessoas entrando e outras saindo" na equipe, se referindo a saída de Stefan Everts e a entrada de Joel Smets. O Holandês também declarou que ainda está se recuperando da lesão na bacia, então logo tirará a placa da clavícula e pretende começar os treinos com moto em novembro, mas que em qual categoria, ainda não está decidido.
Ken Roczen também fez alguns posts ultimamente que achei interessantes. Depois de todo o bafafá dos comentários de seu pai sobre a equipe, o piloto voltou a Alemanha por algumas semanas e fez questão de mostrar aos seus fãs ou outros interessados que a sua moto de treino era completamente original, fato intrigante pois o principal patrocinador da equipe é a Yoshimura.
Para finalizar, o Motocross das Nações este ano superou todas as minhas expectativas, pois mesmo sem grandes nomes presentes, a corrida foi eletrizante. Sem falar no show que os franceses e fãs do mundo inteiro deram, foi realmente sensacional. A atmosfera no circuito era algo único, sem palavras para explicar, só estando lá para poder sentir e entender. Não à toa, a Youthstream já declarou que pretende trazer o evento para o mesmo local em 2020.
Frase da semana
Never interrupt your enemy when he is making a mistake.
Napoleon Bonaparte