Coluna do Zanol Por Felipe Zanol - Fotos: Divulgação
Olá amigos, nesta coluna vou descrever minha viagem para a disputa da 2ª e 3ª etapas do Campeonato Mundial de Enduro na Espanha e em Portugal
Felipe Zanol competiu na etapas da Espanha e Portugal do Mundial de Enduro Foto: Luis Fernando Gondim |
Ivan Cervantes é o líder do Mundial na classe E3, a mesma em que Zanol competiu Foto: Edmunds J. / KTM |
Dia 24 de abril de 2007, sai de Belo Horizonte (MG) com destino a Guarulhos (SP), onde pegaria o vôo com destino a Madri, na Espanha, para correr a 2ª e 3ª etapas do Campeonato Mundial de Enduro. Em São Paulo encontro com o Ike (Klaumann, outro piloto brasileiro) e seu pai (Paizão) que já estavam por embarcar para a disputa do mundial também. Enquanto meu amigo e companheiro de viagem Luis Fernando não chega, encontro também com Dimas, Pérsio, Zé Hélio, Guilherme, todos eles indo fazer um passeio na áfrica. O bate papo foi grande até a hora do embarque.
Primeiro desafio na Espanha Ao chegar a Madri, após mais de 18 horas entre aeroportos e avião, conexão em Porto e Lisboa tivemos a infeliz notícia que nossas bagagens haviam sido extraviadas. Lá estava toda indumentária que usaria nas corridas, as duas suspensões que havia trazido além de todas as nossas roupas e pertences pessoais. Depois de muito sofrimento, desgaste físico e emocional resolvemos ir ao hotel encontrar o Ike e ficar esperando o prazo de 24 horas que a companhia IBERIA nos pediu para um posicionamento. Para nossa alegria as 23:00hs ligamos no aeroporto e recebemos a notícia que haviam encontrado todas as nossas bagagens.
O próprio piloto fica encarregado da manutenção da moto durante a competição Foto: Divulgação Yamaha |
"O deslocamento entre as especiais era dificílimo" Foto: Luis Fernando Gondim |
No dia seguinte, quinta feira, seguimos ruma a região de Murcia. Após 5 horas de viagem em estradas maravilhosas chegamos ao nosso destino na Espanha, Puerto Lumbreras. Fomos conhecer o Paddock e achei impressionante a organização e a estrutura do local, as equipes de fábrica já estavam com suas estruturas montadas e seus pilotos já faziam os ajustes nas motos e os testes na pista ao lado construída pela organização para este fim.
Fomos procurar nosso caminhão com as motos e nada. Bem, ligamos e ninguém para nos responder onde estava. Resolvemos ir almoçar e retornar ao paddock depois. O caminhão é da Equipe Bianchi Prata e lá estavam o Paulo (responsável pela equipe e nosso mecânico) o Pinto (motorista) o Rui Correa, o Luis e os pilotos Fernando Rodrigues, Enes e Gonçalves. Juntos a eles fomos conhecer as nossas motos; eram motos com pouco uso, e bem parecidas com as originais, uma WR 450 pra mim e uma WR 250 para o Ike. Ajustamos o que foi possível nas motos e fomos treinar. Já de cara o terreno é completamente diferente de qualquer um aqui no Brasil, muito arenoso com pedras grandes no meio. Recebemos algumas dicas de pilotos portugueses e do Fernando (Print Press) e começamos a melhorar bastante. Depois de andarmos por mais de três horas resolvemos que era hora de andar na especial de Enduro a pé para reconhecimento, guardamos as motos e lá fomos nós.
"Na terceira volta estava em 12º lugar, tentei forçar o ritmo, mas acabei levando um tombo" Foto: Luis Fernando Gondim |
Sexta-feira acordamos cedo e fomos terminar de arrumar as motos para a inspeção administrativa e técnica, aquele dia seria muito curto para nós. O Fernando teve de ir a Alicante, cidade situada a 200 km para buscar o Sérgio, pai do Ike. Na saída o pneu do nosso carro estava furado e, após procurar muito, descobrimos que alguns carros na Europa não possuem mais estepe, e sim uma bomba de ar aonde se acopla um recipiente com um produto químico para tapar o furo. No final da tarde depois de colocar as motos no parque fechado aproveitamos para fazer reconhecimento nas especiais e só nos restou andar nas especiais de Cross test e Extreme.
Manhã gelada de sábado, acordamos cedinho e rodamos 30 km até o hotel onde estavam hospedados o Ike e seu pai para irmos para a Largada. Estava muito ansioso e nervoso. Na noite anterior choveu muito, deixando as especiais e o deslocamento bastante difíceis de pilotar.
Na primeira volta, a terreno estava bem molhado e não consegui andar bem nas especiais. De cara no extreme acabei perdendo vários minutos em uma subida que tinha. Optei por passar pelo lado esquerdo e lá estava mais ingrime e com várias pedras, motivo pelo qual não consegui subir. Após isso, o deslocamento estava muito difícil e o fato de não estar acostumado com a moto me prejudicou um pouco. Tentei colocar a cabeça no lugar e me concentrar na corrida. Comecei a fazer alguns tempos bons e isso me motivou muito. Acabei terminando o dia em 18º lugar. O tempo perdido na primeira volta do extreme test acabou me tirando a chance de ficar em os 15 melhores. Vale ressaltar que o deslocamento entre as especiais era dificílimo, minando bastante as energias e exigindo muita habilidade e perícia para superá-los.
Jonny Aubert venceu as duas provas, mas segue em segundo na classificação geral da E2 Foto: Divulgação Yamaha |
Brasileiros partiram para Portugal após a disputa na Espanha |
Na manhã de domingo a mesma rotina; cheguei para a largada só que bem mais descontraído do que no primeiro dia e bem mais animado também. Comecei a atacar nas primeiras especiais e os resultados estavam legais na primeira volta, deixei pilotos oficiais tanto da BMW quanto da Husqvarna e Honda para trás, brigando de segundo a segundo por um melhor tempo.
Estava andando muito bem no Enduro Test, aonde conseguia descontar bastante tempo em cima dos concorrentes. Na terceira volta de um total de 4 estava em 12º lugar, tentei forçar o ritmo para garantir a colocação, mas acabei levando um leve tombo que me tirou vários segundos. Estava muito cansado também e optei em ir mais na calma. Acabei ficando em um ótimo 14° lugar na frente de vários pilotos oficiais e o melhor, se estivesse correndo um six days teria ficado mais de 1 minuto dentro da medalha de ouro! Fiquei bem impressionado com os deslocamentos que são bem técnicos e tempo que é colocado para poder fazê-lo, é um ritmo bem rápido, algo que não estava acostumado no Brasil. Terminei o dia bem cansado.
Nova disputa em Portugal Depois de descansarmos um pouco partimos para Portugal local onde seria a próxima corrida. Ficamos em uma cidade a 45 km de Marco do Canavezes chamada Fafe, ficamos na casa da cunhada do Fernando e fomos muito bem recebidos por ela e seu marido Hélio.
Sobre a etapa portuguesa: "No fim da prova fiz uma reflexão e conclui que essa foi à prova mais difícil que já disputei em 11 anos andando de moto" Foto: Luis Fernando Gondim |
Na quarta feira fomos a Marco reconhecer as especiais, pois não tínhamos motos para treinar e ficamos espantados ao chegar ao paddock. O extreme que estavam terminando de montar era muito complicado cheio de pedras e valas. Eu e o Ike ficamos andando e discutindo sobre ele durante vários minutos. Depois de algum tempo aproveitamos pra reconhecer o cross test também. Era muito técnico e com terreno arenoso. Quando estávamos na metade à chuva começou a cair e terminamos de reconhecer assim mesmo.
"Na pressa em arrumar o radiador, acabamos não abastecendo a moto. No meio do deslocamento a gasolina começou a acabar..." Foto: Luis Fernando Gondim |
Todos as pessoas que encontrávamos nos falavam que a prova de Portugal seria bem mais dura que a da Espanha e que é a mais difícil do campeonato. Ficamos com a pulga atrás da orelha.
Na quinta-feira tentamos conseguir as motos, mas sem sucesso novamente.
Conseguimos agendar pra sexta-feira, onde teríamos a vistoria técnica a partir das 14:00 horas.
A sexta-feira foi realmente uma correria e só conseguimos respirar após colocarmos as motos no parque fechado, por volta das 17:00 horas. Tivemos uma mudança de moto, minha equipe a IMOCX Racing, conseguiu disponibilizar uma Husqvarna TE 450 2007 para correr e o Ike resolveu andar de WR 450. No fim do dia fomos reconhecer o enduro teste que tinha uns 8 km e era em uma montanha, o test tinha muitas curvas descompensadas e era repleto de grama.
Sol forte na largada no sábado e já partimos direto pro extreme test, levei dois tombos nele. Depois parti para o deslocamento com muitas pedras. O terreno estava molhado e dificultou bastante fazer o tempo de CH. Consegui fazer bons tempos nas especiais mas já estava muito cansado na primeira volta, seriam três no total do dia.
"Retornamos ao Brasil dessa incrível aventura em terras espanholas e portuguesas com gosto de quero mais" Foto: Luis Fernando Gondim |
Optei por tentar terminar a prova, pois estava muito cansado e a prova muito complicada. Estava com meus tempos de especiais ficando bem altos e no fim da terceira volta, na pressa em arrumar o radiador da moto que estava com um pequeno vazamento, acabamos não abastecendo a moto. No meio do deslocamento a gasolina começou a acabar e tive que diminuir o ritmo para não ficar sem combustível no meio da trilha. Fiz a volta no cross test bem lento também e fui a um posto de gasolina abastecer pois não tinha nenhum CH por perto. Acabei penalizado em 8 minutos, fato que me tirou da disputa por colocações. No fim da prova fiz uma reflexão e conclui que essa foi à prova mais difícil que já disputei em 11 anos andando de moto. Eu estava bem treinado físicamente, tecnicamente e terminei o dia exausto.
No segundo dia não tinha expectativa de fazer um bom resultado, só queria dar meu máximo para terminar o dia e não me machucar. Fiz uma prova tranqüila e acabei ficando em 14° lugar me dando como satisfeito pelo resultado. Vários pilotos abandonaram a prova que é a mais difícil do campeonato mundial de enduro.
Retornamos na terça feira para o Brasil dessa incrível aventura em terras espanholas e portuguesas com gosto de quero mais.
Queria aproveitar para agradecer ao Luiz Fernando (Print Press) e família pelo apoio como mochileiro, mecânico, fotografo etc. A minha equipe IMOCX Racing-Husqvarna, a Água Mineral Ingá e a Mr Pró que me acompanharam nesse desafio de disputar a 2ª e 3ª etapas do Campeonato Mundial de Enduro.
Valeu!
Felipe Zanol é tetracampeão brasileiro de enduro, bicampeão brasileiro de cross country e atualmente integra a equipe Husqvarna / Imocx Racing. Além dos vários títulos nacionais este piloto mineiro já competiu em 3 edições do ISDE (principal competição do enduro mundial), onde conquistou a medalha de prata.Contato:
zanolfelipe@ig.com.br