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Adriano Winckler
Publicado em: 17/01/2011
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Trilheiros levam ajuda às vítimas das chuvas no Rio de Janeiro
Redação MotoX.com.br - Maurício Arruda - Fotos: Adriano Winckler 


O cenário encontrado pelos trilheiros em Teresópolis é assustador. Lama e pedras
devastaram tudo pelo caminho

Todo o país tem acompanhado nos últimos dias o sofrimento das vitímas dos deslizamentos e enchentes na região serrana do Estado do Rio de Janeiro. No último domingo, 16 de janeiro, um grupo de trilheiros partiu da capital fluminense com o objetivo de levar ajuda à população. Encontraram um cenário impressionante, com casas destruídas pela lama e por enormes pedras que devastaram tudo pelo caminho.

O jornalista Adriano Winckler, um dos motociclistas do grupo, relatou um pouco da experiência que pretende repetir nos próximos dias.


"Rio de pedras" desceu das montanhas   
MotoX: Vocês estiveram em que cidade?

Winckler: Fomos para a cidade de Teresópolis, pois aparentemente era a que teríamos menos problema para chegar, pois a estrada até lá (Rio-Teresópolis) não tinha nenhum tipo de impedimento, como queda de barreiras, e os relatos de necessidade de ajuda eram grandes.

MotoX: Quantas pessoas o grupo mobilizou e qual era o objetivo?
Winckler:
O grupo inicial era maior, mas provavelmente pelo medo e pela falta do real conhecimento do que encontraríamos por lá, acabamos tendo desistências. Saímos em 10 pessoas, do Rio de Janeiro e de Niterói. Nosso objetivo era ajudar de qualquer maneira, e como sabemos que as motos de trilha fazem diferença para chegar a locais mais isolados e de difícil acesso, sabíamos que seríamos úteis. 

MotoX: Como foi o planejamento?
Winckler: Na verdade não houve muito planejamento. As imagens que passavam na TV eram muito fortes, e com alguns amigos, moradores das cidades atingidas, comentando a todo momento pelas redes sociais, combinamos tudo praticamente na sexta-feira à noite. Tínhamos a vontade de ajudar e seguimos em frente. A matéria publicada pelo MotoX também ajudou a mobilizar algumas pessoas para ajudar. Algumas delas se oferecendo até para sair de São Paulo, capital.

MotoX: Outros veículos deram apoio ao grupo?
Winckler: Sim, quatro picapes Ranger e dois 4x4 (um Land Rover e uma L200).

MotoX: Vocês encontraram dificuldades em seguir com as motos?
Winckler: Alguns locais pareciam trechos de trial. A enxurrada arrastou pedras do tamanho de automóveis. Centenas delas, que destruíram uma comunidade inteira. Segundo relatos dos sobreviventes, esse "rio de pedras" que desceu das montanhas matou centenas de pessoas, soterradas, que sequer aparecem na contabilidade dos mortos, pois dificilmente serão encontradas.


"Alguns locais pareciam trechos de trial. A enxurrada arrastou pedras do tamanho de automóveis."

MotoX: As coisas funcionaram conforme o planejado?
Winckler: Parcialmente, sim. Chegamos à cidade e conversamos diretamente com a Defesa Civil. Nos pediram para ajudar na localidade de Santa Rita. Porém, no meio do caminho, um trilheiro local interceptou o primeiro veículo do nosso comboio e nos levou para o bairro da Posse, onde já havia outro grupo de pilotos e trilheiros, com o mesmo objetivo de distribuir os donativos. Voltaremos lá na 5ª feira para tentar ajudar a Defesa Civil, provavelmente em Santa Rita ou Vieira, localidade que também foi bastante atingida. 

MotoX: Quais os maiores imprevistos?
Winckler: Não tivemos nenhum tipo de imprevisto. Até porque tomamos o cuidado de conversar com a Defesa Civil antes de fazer qualquer coisa. Não teria lógica expor nosso grupo a situações de risco e dar ainda mais trabalho para eles. Os sobreviventes precisam e precisarão por muito tempo ainda de ajuda, dispensando curiosos, e há muitos por lá. Desde o início, conversamos e decidimos que só entraríamos em locais nos quais fôssemos autorizados.


"Segundo a Defesa Civil, a água pode ter atingido velocidades acima de 100km/h, a dois metros de altura do nível da rua".
MotoX: Diante de tanta devastação o que mais impressionou o grupo?

Winckler: Felizmente, se é que posso usar esta expressão, não vi nenhum corpo. Subi a Serra me preparando psicologicamente para isso. Mas, provavelmente, por já ser domingo, todos os corpos mais próximos da superfície do barro e da lama já haviam sido retirados. Agora, o que mais me impressionou foi o rio de pedras que dizimou uma comunidade com dezenas de casas. Pedras do tamanho de automóveis. Segundo a Defesa Civil, a água pode ter atingido velocidades acima de 100km/h, a dois metros de altura do nível da rua.

MotoX: As imagens divulgadas na mídia dão a real dimensão da tragédia?
Winckler: Essa é uma questão difícil, pois a TV precisa cobrir os acontecimentos de três grandes cidades: Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo... além das cidades pequenas. E todas essas cidades têm dezenas de bairros, distritos e pequenas localidades atingidas. Nós ficamos focados no trabalho de formiguinha, levando e buscando água, comida e produtos de higiene, apenas nas localidades da Posse e Campo Grande. As imagens deste lugar são realmente impressionantes. Uma das ruas que precisávamos atravessar com as motos estava completamente tomada com pedras muito grandes. Era uma rua normal, de paralelepípedos, bem no início da comunidade, que se estendia 4km ou 5km para dentro. Não era uma favela, mas uma localidade, com casas mais simples e casas muito bonitas, pousadas, bares, supermercados. Acho muito difícil, por exemplo, que os carros que estavam estacionados nas casas lá para dentro, e, que, por milagre, escaparam das pedras, sejam retirados de lá um dia. Pelo menos "andando" pela rua (que não existe mais) será impossível.

MotoX: Os sobreviventes relataram algo ao grupo?
Winckler: Esta localidade foi praticamente dizimada. Havia muitos sobreviventes, mas todos tentando retirar de casa alguns pertences, colchões, roupas, enfim... qualquer coisa que pudesse ser carregada. Ouvimos muitos relatos de pessoas que perderam muitos familiares, conhecidos e amigos. O semblante das pessoas era de muita tristeza. 


Grupo levou doações as vítimas

MotoX: Motocicletas poderiam ser mais utilizadas nesse tipo de resgate?
Winckler: Voltei para casa pensando justamente nisso, no fim do dia. Acho que as entidades, como Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, etc, deveriam ter um batalhão de motociclistas, com experiência em enduros e trilhas. Obviamente é possível fazer a pé o mesmo percurso que fizemos para distribuir os donativos, mas superar a lama, as pedras e as longas distâncias é algo simples para quem anda com moto de trilha. Simples, mas que neste caso tem uma importância enorme. 


"O semblante das pessoas era de muita tristeza".
MotoX: Existem motociclistas trabalhando em conjunto com a defesa civil?

Winckler: Tenho amigos nas três maiores cidades atingidas, e em todas elas os pilotos de enduro e trilheiros locais estão trabalhando com a Defesa Civil e os Bombeiros. Nas cidades menores eu não sei como está, mas acredito que esteja igual. De qualquer forma, qualquer um pode ajudar. Com carro 4x4, com carro normal 4x2, com moto de trilha, com moto de rua. Querer ajudar é o principal.

MotoX: Por favor acrescente o que achar necessário.
Winckler: No domingo, subi com alguns amigos e integrantes do Trail Clube Esqueleto do Mato, de Niterói (RJ). Além dos pilotos, alguns levando a esposa, o clube também participou com doações. Também levamos doações da Ordem Sétimo Raio e da Escola de Percussão Tamborim Sensação.

Como na quinta-feira, dia 20/01, será feriado no Rio de Janeiro, estou organizando novamente o meu grupo para subir e ajudar mais uma vez. Quem quiser nos acompanhar, será muito bem-vindo. De carro ou de moto, com doação ou sem. Qualquer ajuda é válida.

Contato

Quem quiser ajudar, deve entrar em contato com Adriano Winckler pelo e-mail adriano.winckler@gmail.com  ou telefone (21) 9862-3595 - rádio 98*51190.






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