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Aprendizados de 25 anos de carreira
Publicado em: 31/12/2009
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É preciso união para mudar o cenário do motocross nacional
Redação MotoX.com.br - Por Ricardo Raspa - Fotos: Maurício Arruda/Arquivo MotoX


Temporada 2009 do Brasileiro de Motocross gerou muitas críticas

Nesta edição da coluna Opinião um piloto com a experiência de 25 anos de carreira, que passou por diversas categorias do motocross e pelas mais variadas situações possíveis e imagináveis do esporte comenta o atual cenário da competição no Brasil. Após encerrar a carreira ele diz: "venho aqui orientar, criticar, dar conselhos, tudo o que puder para ajudar o piloto profissional, o amador, ou praticante de primeira viagem". Com vocês Ricardo Raspa.

"Como muitos sabem fui piloto profissional por muitos anos e hoje minha atividade continua sendo o off-road, mas com outro foco, atualmente ministro aulas e cursos passando tudo que aprendi ao longo da carreira a novos atletas e também aqueles que querem apenas se divertir com o motociclismo fora de estrada, sempre aplicando a técnica correta e da forma mais segura possível. Neste espaço quero abordar vários temas, alguns deles polêmicos em um momento que o esporte, opinião da grande maioria dos envolvidos na atualidade, segue cada vez mais um caminho errado. É consenso, a competição nacional perdeu padrão! Quando o piloto viaja para um evento não sabe mais o que vai encontrar, independente de qual parte do evento esteja me referindo. Não há foco na essência do esporte, nem em pista, nem em como funcionará a parte técnica da prova e é muito triste acompanhar isto tudo.


"É consenso, a competição nacional perdeu padrão! Quando o piloto viaja para um evento não sabe mais o que vai encontrar"
Após anos participando do circuito profissional brasileiro, deixei de competir. Depois do encerramento desta temporada sinto que não perdi nada. Com a atual administração da CBM (Confedereção Brasileira de Motociclismo), já sabia que seria hora de me dedicar a alguma outra atividade e durante o ano aquilo que eu esperava se confirmou: o campeonato piorou muito. Sinto muita falta dos amigos e do bom papo com eles durante os eventos, quem compete por tantos anos sabe que ali estão nossos parceiros, mas em relação a competição sinto sim uma grande decepção.

Explico porque não acredito no trabalho realizado atualmente pela entidade revelando um episódio ocorrido em 2008, ocasião em que concorri a eleição para presidência da Federação Paulista de Motociclismo. O que posso esperar do dirigente maior do esporte, conhecendo-o como eu conheci na ocasião? Na época o presidente da FPM, Décio Fantozzi, não tinha votos para se reeleger, mas com o apoio do Sr. Alexandre Caravana Guelman, atual Presidente da CBM, que, de posse de uma carta da própria FPM afirmando que o Moto Clube que ele representava estava em dia, deu apoio a sua permanência na direção do motociclismo paulista. Eu sabia que o CNPJ do Moto Clube estava cancelado, mas da forma como é feita a eleição, com o maior interessado ditando todas as regras, ele se mantém no cargo como se fosse vitalício. Quando eu quis brigar, dizendo que aquilo não era correto o presidente da CBM me disse "Raspa, coloca na justiça", sabendo que a justiça é lenta e que talvez tal processo levasse mais de 10 anos. Senti que hoje estas instituições não são dirigidas de forma séria. Sei muito bem do que estou falando e estou tranquilo com essas minhas afirmações, tenho provas do que digo.

Isso não é nada perto do que conheci. Se quiserem podem responder, peço inclusive que mostrem documentos. Outro exemplo de como a coisa funciona é que a eleição da CBM foi decidida por um voto, coincidentemente o voto dado pelo presidente da FPM foi fundamental no resultado. Ele não poderia ter votado pois a Federação Paulista estava suspensa, mas a antiga administração foi pressionada e acabou permitindo sua participação. Em São Paulo temos acompanhado há anos o anúncio de datas dos campeonatos para que os pilotos corram pra se filiar e pagar as taxas. A federação arrecada alguns mil reais e depois adia ou não realiza os eventos anunciados no início da temporada. É vergonhoso, mas a CBM, não toma providências e não vejo outra explicação senão porquê um dirigente tem gratidão pelo outro. O comentário no meio off-road hoje é que a Federação Paulista de Motociclismo está à venda, que o presidente oferece a entidade a quem estiver interessado. 


"Na hora em que todo mundo acordar, verá que a união tem de acontecer para o bem, sobrevivência e crescimento do nosso esporte"

Tudo que precisa "dar certo" para o piloto está na mão dos cartolas e patrocinadores. A ABPMX (Associação Brasileira de Pilotos de Motocross) não consegue atuar uma vez que, infelizmente, não há interesse que a mesma cresça nem por parte dos pilotos, aqueles que deveriam ser os maiores interessados. Na realidade eles são os mais descrentes, existe aquela mentalidade, quem está por cima nunca quer ver o que está ali, abaixo. Espero, sinceramente, que isso mude um dia.

Assim estes mesmos pilotos ficam sem força e são vítimas de falcatruas. No ano passado, a direção da CBM afirmou que R$ 15,00 da taxa de inscrição deveria ser repassada para a ABPMX. Bom, todo mundo sabe o fim da história. O presidente da CBM alegou que não havia sido informado e nada foi repassado aos representantes dos pilotos; isso, depois de 3 etapas! Então, realmente, os pilotos viram como os compromissos são levados pela confederação hoje. Agindo assim, a única coisa que se conseguirá é acabar com o esporte duas rodas. Basta avaliar o que era bom e como está agora. Isso já refletiu no campeonato, patrocinadores importantes se afastaram. Não se pode agir como se estivesse numa antiga estatal, diga-se de passagem ruim.


"Vejo com preocupação o futuro da atual geração"
Na hora em que todo mundo acordar, verá que a união tem de acontecer para o bem, sobrevivência e crescimento do nosso esporte. Enquanto você dá resultado, todos te admiram e te querem. Chega um dia em que o campeão vai ser superado, o que é natural, e aí, como ele vai se sentir nessa hora? Os dirigentes vivem dizendo que esse trabalho não dá dinheiro, mas ironicamente não largam a atividade, pelo contrário, tentam permanecer o máximo tempo possível.

Meu tempo de competir para resultado já passou e vejo com preocupação o futuro da atual geração. Quem ganha para isso, sabe o quanto é estressante. O esporte de alta competitividade chega ao fim uma hora. Hoje curtir a moto com tesão é o que preciso e não ter de provar resultados o tempo todo. Sobre minha passagem na presidência da ABPMX Gostaria de me desculpar com os pilotos, aliás, com os 22 filiados da ABPMX, pois eles estavam apostando em mim. Fica difícil nadar contra a maré. Eu posso sim, um dia, voltar a representá-los, mas para que isso aconteça, tem de ser 100%, não um acordo meia-boca. No momento, tenho de correr atrás do meu trabalho, do meu ganha pão.

Graças a Deus, minha escola off-road vai bem. Ela é séria e com a parceria com o MotoX só melhorou. O curso surgiu quando o filho de um diretor da Honda necessitou de instrução. Outro piloto o atendeu, mas vi que não era uma coisa que ele queria fazer. Naquela época eu era o mais novo da equipe Honda e vi ali uma oportunidade de agradar o meu chefe, me ofereci, e o rapaz aceitou. Depois acabamos virando grandes amigos e desenvolvi este novo trabalho. Criei minha própria didática e, como gosto muito do esporte, isto colaborou para que eu conseguisse, de forma clara e objetiva, transmitir as técnicas até mesmo para aqueles que não tem nenhuma experiência. Fiz vários cursos, entre eles com Harry Everts, Rick Jonhson e Didi Lacher. Desenvolvi um metódo de muito sucesso e isso até fez com que eu recebesse uma oferta para representar um grupo estrangeiro aqui no Brasil, mas preferi manter meu próprio trabalho e a parceria com o MotoX.

Já trabalhei com muitos profissionais, que me procuram pra aperfeiçoar a pilotagem. Aprendo cada vez mais com os alunos, vou unindo o conhecimento com o leigo e o profissional, com isso aproveito para sempre aprimorar o método. Os cursos MotoX Ric Raspa tem um formato bem legal. Sempre um instrutor anda de moto, no caso o Maurício Arruda que também tem grande conhecimento do esporte, e vou explicando passo a passo das técnicas esclarecendo também as dúvidas dos participantes durante a demonstração. Isso colabora para a compreensão dos alunos, claro sempre dou minhas voltas para mostrar que também sei andar um pouquinho de moto. É legal que falemos do equipamento a comprar, que no mercado existe quem é sério, mas também aquele que é apenas um "ganhador de dinheiro fácil". Sou contratado para ensinar, mas depois do curso saímos todos amigos, com confiança e conhecimento diferente do que se imaginava. Isso me deixa muito satisfeito. Resumindo, nos cursos passo não apenas algumas horas de moto, mas 25 anos de experiência. 


Graças a Deus, minha escola off-road vai bem. Aprendo cada vez mais com os alunos, vou unindo o conhecimento com o leigo e o profissional, com isso aproveito para sempre aprimorar o método.

Me orgulho da carreira que construí, conquistei títulos e por 10 anos integrei a principal equipe do país, tenho um currículo importante, sempre entre os cinco primeiros colocados nas competições nacionais ao longo de uma década. Isso contribui hoje para que eu também execute outro trabalho que acho fundamental: o curso de direção defensiva que ministro nas escolas da minha cidade (Jacareí, SP). Gosto muito do que estou fazendo, já que possuo em casa, um relato grave de acidente com moto na rua. Esse trabalho está me deixando um ser humano mais evoluído, mesmo se a cada curso eu conseguir fazer com que somente uma ou poucas pessoas reflitam e mudem seu jeito de usar a motocicleta.


Hoje, com um filho com sérias sequelas de um acidente de moto no trânsito, decidi dividir com outras pessoas esta experiência e trabalhar para que os jovens tenham consciência dos riscos e utilizem a motocicleta da maneira correta.
Hoje, com um filho com sérias sequelas de um acidente de moto no trânsito, decidi dividir com outras pessoas esta experiência e trabalhar para que os jovens tenham consciência dos riscos e utilizem a motocicleta da maneira correta. Eu sempre tirei da moto o meu sustento e fiz dela o meu lazer, mas sempre, ressalto, com muita consciência.

Busco apoio para essa iniciativa, já que não tenho todo patrocínio que necessito. Preciso de mais colaboradores, é vital para que eu coloque todo o projeto em prática. Felizmente, conto com o apoio da família Silva Mattos (ASW/FOX) e procuro por novos parceiros. Conto ainda com o SEST/SENAT de minha cidade, porque também vou ministrar um curso para motoboy, sempre pensando na segurança.

Estou fazendo vários cursos para me aperfeiçoar. Nem sempre é fácil. Para ter a atenção dos jovens de 15 a 18 anos tenho que mostrar minha "atividade altamente radical" (o motocross), que todos admiram e, ao mesmo tempo, contar sobre meu filho na cadeira de rodas, um exemplo de que mesmo tendo habilidade para pilotar todos nós estamos sujeitos ao trânsito violento. Isso é o que realmente choca, pois o destino é irônico: ao mesmo tempo em que ganhei minha vida em cima de duas rodas, numa atividade extremamente radical, tive que aprender, através do meu filho, o que é ser lesionado no trânsito com uma motocicleta.

Gostaria de aproveitar o espaço e agradecer primeiramente a Deus, pois sem ele não somos nada, também a minha família, esposa e filhos que sempre me apoiaram. Quero agradecer, em especial, ao Sr. Wilson Yasuda (gerente do CET Honda) que nos momentos mais difíceis da minha carreira me falou o seguinte: nem sempre o melhor é o primeiro. Isso é um ensinamento que me deu muita força nos momentos mais difíceis da carreira e que gostaria de compartilhar com os jovens pilotos de hoje. Obrigado a todos.

Me coloco a disposição para debater neste espaço temas do motociclismo nacional. Trago três sugestões para serem votadas (envie e-mail dizendo qual o seu preferido):
1 - Nossos dirigentes
2 - Nossos campeonatos - Como conseguir ser profissional
3 - O que fazer para melhorar o esporte".

Ricardo Raspa - ricraspamotox@hotmail.com






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