Por Lucídio Arruda / Fotos: Arquivo MotoX, Lucídio Arruda e Luiz C. Garcia
Em 6 anos de existência o Arena Cross tornou-se referência nacional em matéria de organização, divulgação e cobertura de mídia. Para 2005 a expectativa de mais um salto de crescimento chegou acompanhada da notícia da transmissão das provas em rede nacional pela TV aberta.
Carlinhos Romagnolli é o comandante da empresa que leva seu nome e promoveu o Campeonato desta temporada com nada menos que treze etapas no Estado de São Paulo. Sua empresa organizou também o Campeonato Brasileiro de Arena Cross neste final de ano além de cuidar da cenografia nas provas do Brasileiro de Motocross e Motovelocidade. Em Botucatu, SP, organiza também o tradicional Enduro da Cuesta além de realizar eventos como feiras e shows musicais.
Aproveitamos a etapa do Brasileiro em Tubarão, SC, para saber mais sobre o futuro do Arena Cross no Brasil. Conversamos com Carlinhos entre um intervalo dos treinos no domingo pela manhã.
Bom, vamos começar pelo início. Como você se envolveu com o Motociclismo? Foi em 1987. Comecei a andar de moto em 86 e no ano seguinte pela primeira vez fui participar de um Enduro de Regularidade em Ribeirão Preto (SP). Aí achei que Botucatu, uma cidade de serra, tinha muito mais a oferecer em matéria de trilhas do que encontrei em Ribeirão. Então passei a organizar junto com amigos o Enduro da Cuesta, que agora em 2005 chega na 20ª edição.
Como surgiu a idéia do Arena Cross?
Em 97 fiz o Brasileiro de Motocross pela primeira vez e quando terminou o Campeonato, foi contratada outra empresa para dar prosseguimento. Eu tinha feito um trabalho legal e na oportunidade achei que isso não foi reconhecido. Aí eu resolvi criar meu próprio evento, num formato que agradasse pilotos, patrocinadores e principalmente um evento que pudesse se tornar um show, com cem por cento de visibilidade e também que trouxesse de volta ao esporte as emissoras de televisão.
Como foi o início do Arena Cross e sua aceitação no primeiro ano?
De público foi legal, pelos pilotos que estavam dentro também foi legal, mas foi um pouco tumultuado. O pessoal dizia que os resultados eram marmelada, que os pilotos que estavam lá (Negretti, Saçaki) eram pilotos em fim de carreira. As federações se posicionaram contra, por que na época tanto o Saçaki como o Negretti abandonaram todos os Campeonatos para se dedicar ao Arena. Então o começo foi um pouco tumultuado, muita gente contra e pouca gente acreditando.
Mas a gente tinha um projeto não só para aquele ano de 98, era um projeto de longo prazo. Dali para frente começamos a investir em estrutura e aperfeiçoando os detalhes. Logo depois nós tivemos o início nas emissoras de televisão. O SBT começou a fazer um trabalho regional com apenas 80 cidades e o evento foi tomando corpo, conseguindo um resultado legal. E como minha empresa faz também outros tipos de eventos, fora do motociclismo, o dinheiro do motociclismo pôde ser investido dentro do próprio motociclismo, em estrutura, em equipamentos.
Hoje o Arena Cross está nesse ritmo que todos vêem. Acho que poucas empresas têm essa estrutura em arquibancadas para seis mil pessoas, área vip para 300 convidados, carreta vip. Temos hoje três carretas vips, cronometragem com sensores eletrônicos do que há de mais moderno, sistema de som e caminhões de transporte.
Toda a estrutura do Arena é própria? Toda estrutura que envolve o evento é própria. Hoje o evento só contrata mão de obra. Então com isso você consegue seguir um padrão. Em todos os lugares a cara do evento é a mesma, a cenografia é a mesma, o pessoal que trabalha é o mesmo. Para você ter uma idéia hoje toda a equipe de segurança e sinalização são pessoas contratadas para trabalhar aonde o Arena acontecer. Então todo mundo já se conhece e fica mais fácil você fazer o evento.
Quantos funcionarios a empresa tem atualmente? Hoje nós temos 25 funcionários fixos. Num evento a gente trabalha entre seguranças e equipe de sinalização, pessoas contratadas em Botucatu para fazer os eventos, em torno de 80 a 90 pessoas.
Me fala um pouco da estrutura médica de atendimento aos pilotos já que hoje o Arena é uma das referências aqui no Brasil.
É, desde a época do Enduro de Velocidade (Carlinhos organizou a Copa Belco por vários anos durante a década de 90) a gente já tinha uma preocupação muito grande, até mesmo porque eu tinha um filho que corria. Eu queria que, se meu filho estivesse competindo ali, que fosse com muita segurança. Sempre nossos eventos tiveram médico, a gente sempre cobrou uma ambulância UTI. Independente disso o médico que trabalha conosco, ele mesmo tem todo o seu próprio equipamento. Para 2005 nós teremos o Celso, que está estreando aqui, que será outro médico trabalhando junto ao Dr. Heide.
Eu acho que esse atendimento tranquiliza não só aos pilotos, mas nós mesmos da organização. Por exemplo: quando cai um piloto eu não sei o que fazer. Eu posso ter montado o evento, por melhor que seja, mas não tenho formação nem as pessoas que trabalham comigo. E quando nós temos médicos competentes... nós temos dois exemplos: um exemplo é você mesmo (o piloto e editor do MotoX, Lucídio Arruda, acidentou-se durante a 5ª etapa da Copa SBT de Arena Cross), não só o atendimento que você teve na pista, isso eu acho muito importante, mas não é só você encaminhar o piloto até o hospital e lavar as mãos, falar acabou. É você ter o acompanhamento. Os médicos hoje visitam os hospitais onde a gente vai fazer o evento, para saber a estrutura que eles vão ter lá. Nós tivemos recentemente o caso do Paulinho (Stédile) e ele mesmo deu uma entrevista dizendo que se não fosse aquele pronto atendimento poderia ter acontecido algo mais sério. Você vê, a direção de prova através de um pedido do médico interrompeu rapidamente a prova. Então é um trabalho em sintonia, isso eu acho importante. Hoje todos os pilotos do Arena Cross têm seguro contra qualquer tipo de acidente. Todo o público que senta na arquibancada tem seguro. Isso é importante, é um custo a mais que muitos eventos não têm, mas que dá uma tranquilidade muito grande para gente.
Uma das principais críticas que o Arena Cross recebe é por ter categorias fechadas. Hoje um piloto por melhor que seja não pode simplesmente se inscrever e disputar a vitória com o Saçaki, Rafael Ramos e companhia.
Olha se eu tinha alguma dúvida se o meu esquema era certo ou não, hoje neste Brasileiro eu venho a comprovar que ele é o caminho correto. Quando a gente faz um evento eu sou muito cobrado pela imprensa local principalmente sobre "quem vem", "quais são os pilotos que vão estar presentes"? Eu tenho uma relação de todos os pilotos e posso falar: "estes pilotos vão correr". Quando você esta fazendo uma prova, quando o piloto pode optar por participar ou não, você não tem a garantia do espetáculo. Nós temos hoje aqui em Tubarão(SC) um número muito pequeno de pilotos. Categorias que no Arena Cross teriam um gate para 14 motos não vão completar nem um gate. Isso não fica legal.
Até então muita gente me cobrava isso, mas o Arena cresceu assim e agora eu venho a comprovar isso. Eu posso anunciar num cartaz ou na televisão quais os pilotos que estarão presentes. Eu posso fazer um seguro com antecedência. Como que eu poderia fazer isso sem saber quem vai estar na pista? Eu não tenho dúvida que o nosso esquema funciona e vai continuar assim, já que nós não estaremos realizando o Brasileiro (de Arena Cross) em 2005, acho que foi uma experiência legal, mas que serviu para comprovar que o nosso trilho está certo e que nós vamos continuar nele.
Qual é o próximo passo do Arena Cross? No ano que vem já teremos muitas novidades. Uma delas é que traremos de volta as provas noturnas. Isso eu acho muito importante. É o charme das provas à noite, toda aquela cenografia, fogos, telões, projetores de luz. Esse é o primeiro grande passo. O segundo grande passo é você formar novos pilotos. Em 2004 começamos com a categoria 50cc e em 2005 já teremos a 60. Quando essas crianças tiverem idade para a 80, nós vamos criar a categoria para que eles cheguem na 125 e 250. Agora o grande passo é que a partir de 2005 a gente continua com o SBT no interior de São Paulo, continua com a ESPN em canal por assinatura, mas no ano que vem chega a Rede TV em rede nacional como a grande parceira. As corridas serão no Sábado à noite e no Domingo a transmissão as 14:00 horas, um horário que é muito legal porque não temos a concorrência de Gugu nem Faustão, nem Fórmula1, teremos a transmissão de uma hora com compacto da três categorias (50, 60 e 125) e a Especial na íntegra.
Acho que o grande passo é você chegar em rede nacional que era o nosso grande sonho. Eu acho que com isso nós vamos criar novos ídolos. Acho que aí sim vem o projeto de começarmos a apresentar novos talentos, do público conhecer novos ídolos, os futuros campeões. É um trabalho que vem dando certo e 2005 será o grande ano do Arena Cross, disso não tenho a menor dúvida.
Você tem uma parceria desde o início com a Yamaha, e a maioria dos pilotos usa essa marca. Mas e se de repente um piloto de uma marca concorrente começar a ganhar? Não, isso não tem problema nenhum. Ano que vem temos um convite para o Rogério Nogueira. Eu acho que até pelo grande vínculo que ele tem com a Honda ele deve vir de Honda. A Yamaha é a patrocinadora do evento, tudo que é prometido para a Yamaha é cumprido, mas você não pode obrigar um piloto a correr com determidada moto. Cada piloto tem os seus patrocinadores, tem suas preferências e isso que deixa o esporte mais competitivo. A Yamaha é uma grande parceira, tem bons pilotos dentro do Arena e vem ganhando o título nos últimos anos, mas o Fabinho (Corrêa) quando entrou no Arena Cross era um piloto Honda e competiu normalmente. O Rafinha também quando chegou era um piloto Honda.
Nós fazemos o convite para o piloto, agora a moto cada um negocia com os fabricantes. Nós já tivemos o Joãozinho Toledo participando por 2 anos com Suzuki. Nós procuramos cumprir tudo que é prometido para o patrocinador, mas o piloto na verdade tem a opção de escolha.
O que o esporte precisa para crescer em sua base hoje no Brasil? Eu acho que precisa muita promoção. Eu acho que o Campeonato Brasileiro de Motocross hoje é muito bom, tem grandes pilotos. Eu acho que a Confederação Brasileira na parte técnica tem uma equipe muito boa, mas tanto no Motocross como na Motovelocidade eu acho que falta um pouco mais de divulgação. Falta televisão, falta promoção, falta um apoio maior para que a imprensa vá cobrir. Eu acho que sem promoção... se a gente pensar só na competição, sem a promoção, sem o espetáculo eu acho difícil de crescer.
Hoje o Arena Cross é um dos poucos eventos motociclísticos que têm patrocínio de fora da industria da moto. Qual foi o caminho para que marcas como Vivo, Nova Schin e Cinzano acreditassem no motociclismo?
É agregar a competição ao espetáculo. É trazer a televisão, você imagina que o grande interesse dessas empresas é que a marca dela seja bem visível na televisão, na imprensa e isso a gente conseguiu porque o Arena não é um evento cansativo. É um evento com 100% de visibilidade, tudo é muito bem visto pelo público. Quando a televisão faz a cobertura isso facilita muito, eles acabam tendo retorno. Aí é que entra o show de Freestyle. Ano que vem nós teremos um show musical de encerramento quando terminar a última bateria. O Arena Cross não pode ser uma simples competição, ele tem de ser um grande acontecimento nas cidades onde passa. E para você fazer um acontecimento tem que ter promoção, tem que ter público, tem que ter a imprensa.
Podemos trazer novidades no ano que vem. Mais empresas que não estão relacionadas ao meio devem vir, devemos trazer pelo menos mais uma, mas é graças a esse trabalho. Eu costumo dizer: "depois que o gate abaixa o problema é de cada piloto. Mas até esse gate baixar o problema é nosso". Da produção, da estrutura, de você criar uma expectativa. E o grande lance do Arena é que é um evento rápido. É um evento que a pessoa senta na arquibancada, as baterias são rápidas... é um evento que no final ainda tem aquele gostinho de "quero mais" não de "ainda bem que acabou". É isso que a cada ano a gente vai aprimorando, sem mexer na competição, é lógico que a competição é importante, mas a gente sempre tenta agregar. Com isso nós esperamos sempre atrair novas empresas.
E o piloto que quer competir no Arena Cross o que deve fazer?
A Força Livre continua sendo a categoria de acesso. Os pilotos que querem entrar devem mandar um email para arenacross@arenacross.com.br com seu currículo. O primeiro passo é o piloto assumir o compromisso de estar com a gente em todas as etapas. Esse é o grande passo. As vezes as pessoas falam que a gente inventa, mas nós não inventamos nada. O piloto se assumir o compromisso de participar em todas as etapas está dentro, logicamente se houver a vaga disponível.
O ano que vem a Força Livre vai ser a categoria 125 e continua oferecendo o acesso por índice técnico. Este ano o campeão foi o Maurício Arruda e ele vai subir para a Especial. A idéia esse ano é que a gente fortaleça um pouco mais ela com um apoio melhor para os pilotos. Por essa categoria já passou o Boxexa, Joãozinho Toledo, Adriano Guarnieri entre outros. Essa categoria é um trampolim para que os pilotos cheguem na categoria principal.
O calendário para 2005 já está definido?
Teremos 11 etapas terminando no Salão das Duas Rodas e aí a gente parte para uma turnê no Nordeste, em Salvador, Maceió e Fortaleza , três finais de semana seguidos em Novembro, numa região que é carente de eventos do esporte.
Para finalizar qual é o recado que você quer mandar para os visitantes do MotoX? Olha, que continuem acompanhando o Arena no MotoX, que novamente será o nosso grande parceiro na Internet. E queria falar também para as pessoas acessarem o site oficial do Arenacross. Lá você tem todas as informações e o calendário. No ano que vem teremos uma novidade. Será possível acompanhar pela Internet em tempo real com as informações a cada cinco minutos e o resultado logo depois das baterias. Peço que as pessoas através do site do Arena mandem seu email, tirem dúvidas. Se associem ao fã-clube e escolham seu ídolo. E nós vamos estar sempre abertos para receber a todos. Eu acho que o projeto do Arena Cross é um projeto muito legal, um projeto sério e que ele implantou um novo nível de estrutura e organização no Brasil. Ano que vem em rede nacional eu acho que vai ser um dos grandes eventos motociclísticos do país.
Visitem o site oficial em www.arenacross.com.br