Entrevista Leandro Silva
Por Idário Araújo e Equipe MotoX - Fotos: Maurício Arruda e Luiz C. Garcia

Leandro Silva

Durante sessão de autógrafos com o companheiro de equipe Roosevelt Assunção

Quando se pergunta quem é o melhor piloto de motocross brasileiro na atualidade, o primeiro nome a ser citado é do mineiro Jorge Balbi, que hoje acelera no AMA Motocross, o campeonato norte-americano. Mas, logo em seguida, um jovem piloto está entre os mais lembrados: o paranaense Leandro Silva. Com 19 anos recém-completados e muita experiência acumulada, Leandro Silva, ou Nando, como é mais conhecido entre os pilotos, é atual campeão brasileiro de motocross e também do Arena Cross, ambos títulos conquistados na categoria MX2. 

Hoje Leandro integra a equipe oficial Honda e já iniciou a batalha para unificar os títulos da MX2 e MX1. No entanto, a trajetória do piloto para chegar até este ponto de destaque passou por diversos percalços. Conheça agora um pouco da história deste piloto e o que ele espera da temporada 2007. 

Largando na frente no Brasileiro de Motocross

MotoX: Para iniciar nossa conversa, gostaria que você contasse um pouco das dificuldades que passou no esporte até chegar aos dias de hoje?

"Quando as dificuldades aparecem, encaro como um novo desafio"

Leandro: Já passei por muitas, a mais difícil foi quando faltou dinheiro... em  2003 cheguei a pensar em parar de competir, na verdade já pensei muitas vezes, mas desta vez já tinha decidido. Era meu primeiro ano de 125cc e estava indo mal nas provas, quase sem patrocínio e a minha última prova seria em Carlos Barbosa (RS). Depois de liderar metade da prova e terminar a bateria em segundo, convenci meus pais a mudarem de idéia. 

Mas nunca é fácil, quando as dificuldades aparecem, encaro como um novo desafio. Quando estava na 80cc, minha temporada foi excelente, conquistei o título nacional (de 2001), competi no exterior (Espanha e EUA), mas quando mudei de categoria a coisa começou a ficar mais difícil.

MotoX: O que houve exatamente?

Leandro: A primeira dificuldade foi a adaptação, pois cheguei com apenas 15 anos e tinha de disputar espaço com pilotos como o Chumbinho, carregado de experiência. Depois, foi um período financeiramente difícil. Era piloto privado e para competir tinha de investir mais do que eu tinha.

MotoX: Foi quando pensou em desistir?

Quando tinha apenas 15 anos Leandro conquistou sua primeira vitória no Brasileiro de Motocross 125cc

Leandro: Exato... houve um dia em que não conseguia vender a minha moto do ano anterior, não conseguia comprar uma moto nova... então decidi rezar e pedi a Deus que as coisas se resolvessem. Não demorou, consegui vender a moto... comprar outra nova, prosseguir na carreira e chegar onde estou atualmente.

MotoX: Mas este também foi um período de conquistas já que em 2003 você tornou-se o piloto mais jovem (aos 15 anos) a vencer uma etapa na categoria 125cc do Campeonato Brasileiro de Motocross...

Leandro: Sim é verdade, conquistar um resultado inédito como este me motivou, foi um grande estímulo para continuar competindo. Venci a etapa de Cianorte (PR) e conquistei uma nova vitória na prova final do campeonato, em Jundiaí (SP). Na verdade acredito que poderia disputar o título daquele ano (conquistado por Milton Chumbinho Becker), mas uma lesão no início da temporada me afastou de algumas provas.

MotoX: Pulando daquela fase para os dias atuais, conte-nos como está sendo esta nova experiência de competir em duas categorias?

Leandro: Na verdade, a maioria dos pilotos acaba fazendo isso, mas sem compromisso de conquistar títulos, e sim como experiência. Para mim está sendo diferente, estou fazendo as duas coisas ao mesmo tempo, já que havia competido pouco na MX1.

Nesta temporada, aos 19 anos, novo desafio: disputar o campeonato nacional nas duas principais categorias

Sobre as motos 450cc: "Minha maior dificuldade era o desgaste nos braços. Acredito que já superei esse problema"

MotoX: Neste caso qual a maior dificuldade então?

Leandro: Não é tão difícil assim, a única questão é se adaptar na MX1, mas acredito que até o fim da temporada já esteja totalmente afinado com ela.

MotoX: O regulamento do Brasileiro de Motocross permitiu este ano a participação dos pilotos da MX2 na MX1, mas não o inverso. Na sua opinião, na hora da categoria principal o maior tempo de contato com a pista é uma vantagem e compensa o desgaste de participar de uma bateria a mais ou não?

Leandro: Talvez, depende do preparo físico, se eu estiver preparado para 
duas baterias acredito que é uma vantagem, do contrário não.

MotoX: Você comentou após algumas provas nesta temporada sobre problemas na adaptação com as motos 450cc. O que aconteceu e quais são as principais diferenças na hora de competir com esta moto?

Leandro: Ela é um pouco mais pesada, nas primeiras etapas não estava tendo boas
largadas, mas acho que analisando hoje, minha maior dificuldade era o desgaste nos braços, eu não travava, mas perdia a força... acredito que já superei esse problema.

Liderança em sua primeira temporada na classe principal do Arena Cross

MotoX: Temos a impressão que no Arena Cross esse processo de adaptação foi mais rápido (Leandro atualmente lidera a categoria principal) do que no motocross, ou estamos enganados?

Leandro: Eu tenho facilidade pra andar no Arena, não que eu tenha problemas no motocross, acho que era uma questão de preparação. Hoje me sinto mais a vontade no motocross do que no Arena.

MotoX: Costumo sempre perguntar aos pilotos quem é a pedra na bota, ou seja, quem te incomoda dentro da pista?

Leandro: Sempre disputei com o Ratinho (Marcello Lima), ele sempre é competitivo, desde de criança, mas esse ano o Roosevelt (Assunção), o Wellington (Garcia) e o Marron (João Paulino Silva) estão muito bem.

"Acabei sofrendo uma fadiga muscular e tive que suspender os treinos"

MotoX: Voltando a falar de treinamento, como tem sido este item para esta temporada?

Leandro: Diria que intenso... tanto que acabei sofrendo uma fadiga muscular e tive que suspender os treinos pouco antes da etapa de Carlos Barbosa (a 3ª do Brasileiro de Motocross, disputada no Rio Grande do Sul). Além dos treinos, estamos também competindo no Arena Cross, ou seja, uma viagem após a outra.

MotoX: E sobre competir no exterior, quais são suas expectativas?

Leandro: Eu quero focar no campeonato brasileiro, mas nunca paro de pensar no exterior. Claro que o sonho de todo piloto é competir nos Estados Unidos, mas para isso preciso me firmar bem aqui no Brasil.

MotoX: Mas você não se preocupa com a questão idade?

Leandro: Sim, mas isso não significa muito. O ideal é andar forte e estar com cabeça boa para enfrentar as dificuldades lá de fora.

MotoX: Existe a possibilidade de este ano o Brasil voltar a competir no Motocross das Nações, qual a sua expectativa, já que você pode ser um dos convocados?

Leandro: Para mim seria a realização de um sonho. Lá estarão os melhores do mundo. Mas antes tenho de pensar em forma de escadinha. Brasileiro, Latino e (se escolhido) Nações!!!

Participação no Motocross das Nações: "Para mim seria a realização de um sonho"

MotoX: Para terminarmos... Como vai a vida fora das pistas? Estudos? Negócios?

Leandro: Tenho muita vontade de terminar a faculdade, mas neste momento minha prioridade é mesmo o motocross, então tranquei a matrícula do curso de administração e assim que tiver tempo disponível retomo os estudos.

MotoX: Agradecemos a sua atenção e esperamos conversar mais vezes!

Leandro: Eu também agradeço e espero que os internautas tenham gostado. Abraço a todos!!!