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Adriano Guarnieri
Publicado em: 08/02/2007
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Entrevista Adriano Guarnieri
Equipe MotoX - Fotos: Luiz C. Garcia e Lucídio Arruda / Arquivo MotoX

O piloto paulista Adriano Guarnieri, de apenas 21 anos, após fazer parte do time do Arena Cross por mais de 4 anos e ficar em terceiro lugar no Campeonato Nacional da modalidade (em 2004), resolveu abandonar as pistas. Confira a entrevista onde o competidor da cidade de Franca expõe os motivos do encerramento precoce de sua carreira, fatos que, certamente, motivam a desistência de muitos outros talentos do esporte no Brasil. 


Adriano Guarnieri

MotoX: Adriano, você tem sido um dos pilotos mais assíduos das provas do Arena Cross, goza de grande respeito pelo seu carisma com os companheiros e fãs, possui uma boa estrutura, tem o apoio de significativas empresas, mesmo com todas estas condições favoráveis, por que resolveu parar de competir? 

O motivo principal é a falta de perspectiva financeira, que, embora seja a tônica para a grande maioria dos praticantes de atividades esportivas no Brasil, tem sido mais acentuada no motocross. Acontece que nesta modalidade não é possível você ser competitivo com apenas um par de botas e um capacete e andando nos finais de semana. Você tem que se dedicar intensamente, montar toda uma estrutura, com veículo de transporte, mecânico, peças de reposição, pneus, motos etc. Ponha o valor de tudo isso no papel e compare com o retorno que você está tendo, ou terá perspectiva de obter no futuro, e me diga se não é desanimador?


Piloto de Franca, SP, competiu por mais de 4 anos no Arena Cross
MotoX: Mas como você explica o grande número de pilotos nos campeonatos, inclusive de jovens e até crianças competindo com grandes estruturas?

Não consigo explicar este fenômeno! Para mim são pessoas cujas famílias têm muito dinheiro e não estão se preocupando com os custos ou medindo os esforços para participar deste sonho. Acho que se precisassem fazer as contas iriam ficar preocupadas. Por outro lado, entendo que estes investimentos desmedidos e sem preocupação com retorno financeiro, promovidos por estas equipes amadoras, acabam sendo prejudiciais para aqueles pilotos que necessitariam viver com aquilo que ganham, pois promovem uma concorrência injusta, terminando por ofuscar o trabalho daqueles que tentam ser profissionais.

MotoX: Mas o amor ao esporte não justificaria todo este sacrifício? 

Foi por muito amor ao motocross que eu e meu pai estivemos, praticamente todos os finais de semana, competindo por mais de 10 anos. Mas, como não sou de família abastada, chega um momento que é preciso pensar no futuro, e nesta hora a carreira de piloto de motocross deixa muito a desejar.

MotoX: Você quer dizer que não dá para ganhar dinheiro atualmente sendo piloto de motocross? 

Não digo que não dê para ganhar algum dinheiro. Mas isto é muito difícil e restrito aos poucos pilotos que conseguem entrar numa grande equipe. Além disto, se não conseguir ser o campeão, no ano seguinte você poderá estar desempregado. 


"Foi por muito amor ao motocross que eu e meu pai estivemos, praticamente todos os finais de semana, competindo por mais de 10 anos"

MotoX: Você nunca conseguiu ganhar algum dinheiro na sua carreira? 

Infelizmente não tive a chance de entrar numa grande equipe, portanto, sempre competi como piloto privado, apesar de contar com alguns importantes apoios que me ajudaram bastante durante todos estes anos, como é o caso da Kaerre, da MRP, da Brasil Racing, da Duboy Racing de Ribeirão Preto (SP) entre outras. Mesmo assim, os trocados que ganhei nunca foram suficientes para zerar as contas no final do ano e sempre faltava dinheiro na hora de trocar a moto.


Com apenas 21 anos Adriano Guarnieri decidiu interromper a carreira
MotoX: O Arena Cross não te garantiu um bom retorno?
 

O Arena Cross, mesmo sendo o melhor campeonato do Brasil, na minha opinião já não oferece a possibilidade de retorno que havia no início, quando o Saçaki, o Negretti, o Rafael Ramos, o Fábio Correa e outros eram as principais estrelas. Naquela época quem fazia o espetáculo eram os pilotos, por isto a maioria deles tinha patrocínio da Yamaha, além de uma significativa ajuda de custos por parte do organizador. Atualmente, apesar do campeonato ter crescido bastante, os organizadores alegam dificuldades com os altos custos e orientam os pilotos a buscarem patrocínios individualmente.

MotoX: Mas isto não é bom para o nível do campeonato? 

Sim, sem dúvida, é muito bom para os organizadores, pois como o campeonato é bem reconhecido, já não precisam se preocupar em arregimentar pilotos, agora eles têm muita gente querendo andar no Arena, até de graça. Mas para os pilotos que não fazem parte de grandes equipes significou uma perda significativa de mercado. Até mesmo aqueles pilotos que estão no auge atualmente, no futuro, poderão sentir tal perda, pois não terão o Arena Cross para lhes garantir algum retorno no final da carreira. 


"Poderíamos pensar também em outras formas de promoção dos pilotos e do esporte"

MotoX: E os outros campeonatos, não trazem retorno? 

Os outros são piores em matéria de retorno econômico direto. Nenhum campeonato de motocross se preocupa com os pilotos. As inscrições são caras e as premiações medíocres. Num campeonato estadual, geralmente, se você não ficar entre os cinco primeiros, a ajuda de custo não cobre sequer o que foi pago de inscrição.


"Não descarto a possibilidade de voltar a competir, mas por enquanto vou direcionar minhas energias para a graduação universitária"
MotoX: O que você acha que poderia ser feito pelos dirigentes do esporte?

Sei que criticar é fácil, mas acho que, em primeiro lugar, os órgãos que dirigem o esporte (Federações e Confederação) deveriam buscar a valorização dos pilotos. Não é crível que um peão de rodeio, munido somente de uma botina, uma fivela e um chapéu, entre numa arena e, em 8 segundos, ganhe uma caminhonete zero quilômetro - enquanto que um piloto de motocross, com todo o seu equipamento e investimento, sue por mais de 30 minutos e saia da pista com pouco mais que um troféu. Como os organizadores de um rodeio conseguem pagar prêmios tão bons? E as multinacionais que patrocinam o motocross não têm dinheiro? Ou alguém está ficando com a nossa parte?

MotoX: Então você acha que tudo depende da premiação? 

Não! Mas deveria começar por aí, pois estamos num país capitalista, tudo tem que ser comprado, então tem que rolar dinheiro para que a coisa fique interessante e compense. Poderíamos pensar também em outras formas de promoção dos pilotos e do esporte por meio das Federações ou da Confederação, tais como:

-Convênios com empresas para garantir patrocínio aos pilotos ascendentes ou de destaque nas categorias, principalmente nas de base. Hoje você ganha o Campeonato Paulista na classe Intermediária e não tem nenhum incentivo para passar para a profissional. Desta forma, o que era para ser um prémio acaba sendo punição, pois no ano seguinte você tem que sair da Intermediária e enfrentar a Pró por sua conta e risco. 

- Criação de campeonatos oficiais regionais ou de divisão, a fim de proporcionar a redução dos custos dos eventos e facilitar a participação dos pilotos, além de trazer as empresas locais para o rol de potenciais patrocinadores. 


Largando na frente na etapa final do Arena Cross na temporada passada

MotoX: E as corridas não federadas, você é contra? 

Não necessariamente! Na situação atual, em alguns estados são estas corridas as responsáveis pela popularização do esporte, já que existem federações que não cumprem o seu papel. O problema é a falta de segurança que algumas delas podem apresentar. Mas isto poderia ser melhor resolvido se, ao invés de marginalizar estas provas, as Federações facilitassem a realização destes eventos, fiscalizando e cobrando taxas mais condizentes com o que elas mesmas oferecem.


Comemorando a vitória na etapa final do Brasileiro de Arena Cross em 2004
MotoX: Qual foi o seu melhor momento no motocross?
 

Bom... ganhar a etapa final do Campeonato Brasileiro de Arena Cross em 2004, foi muito legal, apesar de ter sido favorecido pela desclassificação do Balbi e do Marronzinho em uma das baterias. Mas o momento em que me senti mais valorizado foi quando, graças ao Jorge Negretti, fui convidado para participar do Supercross Internacional do Chile. Os organizadores do evento pagaram minha viagem, ida e volta de avião com acompanhante, fiquei num Hotel 5 estrelas com tudo pago, emprestaram a moto e, mesmo ficando em 6 º lugar na final, pagaram-me 500 dólares de premiação. Enquanto isto os dirigentes brasileiros não me deram nenhum apoio e ainda queriam me cobrar a filiação na FIM (Federação Internacional de Motociclismo).

MotoX: Você acha que poderá voltar a competir algum dia? 

Não descarto esta possibilidade, mas por enquanto vou direcionar minhas energias para a graduação universitária (Adriano termina o curso de direito este ano). Depois vou procurar fazer uma pós-graduação começar a trabalhar como advogado ou tentar passar em algum concurso para garantir meu futuro. Enquanto isso continuarei treinando de bike e, quem sabe um dia, volto a competir de moto.

MotoX: Adriano, lamentamos sua decisão de interromper a carreira e agradecemos pela entrevista. Você gostaria de deixar algum recado? 

Gostaria de deixar um abraço a todos aqueles que me apoiaram durante estes breves 10 anos de competição e aos fãs, principalmente aqueles das pequenas cidades, onde tive o prazer de competir e fazer grandes amigos. Aos colegas pilotos, peço que não desanimem de suas carreiras, mas também não fiquem alienados. Procurem, cobrem soluções para situações que não estejam satisfatórias, pois, como dizia o Cazuza, o tempo não para, e quando menos se espera já perdemos a oportunidade de fazer alguma coisa. Obrigado!  


"Gostaria de deixar um abraço a todos aqueles que me apoiaram durante estes breves 10 anos de competição"






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