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Jorge Balbi Jr.
Publicado em: 04/10/2004

Entrevista Jorge Balbi Jr.
Por: Maurício Arruda - Fotos: Maurício Arruda / Sebastião Lago Jr.(USA)

Quebrar tabus e mudar paradigmas não são coisas nada fáceis. Principalmente num esporte como o Motocross onde o Brasil não tem muita, ou quase nenhuma, representatividade internacional. Enfrentar os americanos ou europeus em seu próprio solo era algo tão difícil de se imaginar quanto caminhar sobre a água, já que apenas se classificar para as provas era considerado quase impossível. O mineiro Antônio Jorge Balbi Jr., de 23 anos, mudou um pouco esse espectro exatamente no dia 19 de Setembro de 2004 ao se classificar e pontuar na etapa final do AMA Motocross em Glen Helen nos Estados Unidos. 


Jorge Balbi


Levando-se em conta que a pista é localizada na Califórnia, no coração do Motocross americano e que dezenas de pilotos "pró" locais também tentam dar seu "tiro" no campeonato, os resultados que Balbi trouxe ao Brasil são ainda mais significantes. Mais que isso provou que com talento e garra é possível para os brasileiros alçar vôos maiores fora do continente.

Antes de competir com as motos Balbi foi campeão brasileiro e latino de bicicross. Aos 11 anos iniciou sua carreira motorizada que inclui diversos títulos entre eles três campeonatos nacionais e diversos campeonatos estaduais entre Minas Gerais e São Paulo. 

Entre uma bateria de treino e sessões de autógrafos conversamos com o piloto durante a final do Campeonato Brasileiro em Juiz de Fora, MG:

MotoX: Como surgiu essa oportunidade de correr em Glen Helen?

Olha, é um sonho que eu sempre tive de correr fora, principalmente nos Estados Unidos e quando eu ganhei o campeonato de 2003 a ASW resolveu me presentear com a participação na etapa desse ano. Só que Glen Helen era sempre no início da temporada,  uma coisa que a gente contava que ia ser bem rápida e acabaram mudando o calendário e passaram para a última etapa. Então a gente conversou e achou que era até melhor, que eu já teria terminado o campeonato aqui e teria mais tempo de me preparar.

Graças a Deus deu tudo bem certo. Foi uma coisa que a ASW fez, que não tinha obrigação nenhuma de fazer, mas fez porque quer incentivar o esporte e também porque a gente tem uma amizade muito grande. A ASW foi o primeiro patrocinador que eu tive, que me apóia desde 96 e a gente cresceu muito juntos.

MotoX: Antes desta prova qual era sua experiência internacional? 

Eu já tinha participado de um supercross nos Estados Unidos em 2001, foi aquela coisa de primeira vez de sair do país para correr uma prova de nível, já fiz provas na Argentina e já corri na Costa Rica no Latino Americano, foram provas fortes, de nível alto mas não tão forte como nos Estados Unidos ou na Europa. Foi uma experiência boa que tive, mas me precipitei na prova e acabei me machucando. Cheguei a me classificar entre os quarenta melhores mas caí na prova e machuquei o punho. Ví naquela hora que eu já era bastante rápido, o que faltou foi experiência.

MotoX: E na prova desse ano em Glen Helen, o resultado te surpreendeu ou já era esperado?

Eu, sempre assistindo as corridas e sabendo o que eu ando tinha boas expectativas, mas lógico todo mundo vinha falar que era muito difícil... alguns poucos pilotos confiavam em mim, mas a maioria falava "acho que ele nem classifica". Não falavam diretamente para mim, mas a gente ouvia comentários "a pista é muito difícil", "os caras andam muito forte" e coisas do gênero. Eu sempre respondia que eu tava indo para me divertir, que não tinha obrigação nenhuma, mas lógico por dentro eu me cobrava seriedade. Não estava indo para lá para ver o Carmichael ou o Stewart, mas para voltar com um bom resultado, não só para mim, mas que representasse o motocross brasileiro.

MotoX: Explica para a gente como é o processo de classificação. Quantas vezes você precisou correr até chegar à final?


"Teve um sorteio e fui o último a entrar no gate! Aí eu pensei: Deus sabe o que faz (risos)!!"
Olha tudo já começou com a inscrição, por que Glen Helen é a prova mais popular da temporada e eles não aceitam mais do que 100 inscritos por categoria. Então a CBM deu uma força, forçou um pouquinho a barra lá para garantir a inscrição. Quanto as classificatórias o evento começa somente no sábado. Pela manhã eu fiz dois treinos, todos eles cronometrados assim como no Brasil e à tarde eu fiz as classificatórias. Do total de cem pilotos eu treinei entre os 80 que não estavam entre os 20 primeiros no campeonato. Estes têm um treino separado e já estão qualificados diretamente para a final.

Neste treino entre os 80 eu fiz o segundo tempo. Quem fez o primeiro foi um estoniano que surpreendeu todo mundo lá também. O nome dele é Juss Lansoo e ele corre o Mundial na MX3. Ai fui para classificatória e aconteceu um negócio engraçado: tem um sorteio e eu fui o último a entrar no gate (risos)! Aí eu pensei: Deus sabe o que faz (risos)! Não largei muito bem, mas como eu tinha que sair por fora usei uma estratégia de não forçar a largada e tentar recuperar na primeira curva. Eu passei no sensor do "holeshot" em 32º, mas acho que na segunda curva eu já estava entre os vinte e fechei a primeira volta em 10º lugar. Aí é que eu sentí o que eu tinha que andar, ou você acelera e dá tudo ou você fica para trás. Não é como uma prova no Brasil onde você pode administrar, é tudo ou tudo. E eu conseguí assimilar isso rápido e fechei a classificatória na terceira posição bem perto do segundo colocado e a dois segundos do primeiro. Foi legal porque me deu bastante confiança e já me mandou direto para o Domingo de manhã sem ter que passar pelas repescagens.

MotoX: No Domingo você teve outra classificatória?

Isso, o que que acontece, no Domingo chegam 60 pilotos. Os dez primeiros já estão classificados assim como um ex-campeão como é caso do McGrath ou outro que venha a correr. Do 11º ao 20º entram nas classificatórias junto com a gente e é a mesma coisa, uma corrida de quatro voltas, mais ou menos 12 minutos. Novamente não larguei bem, tive dificuldade em largar no concreto (não tive a chance de treinar). Todas as motos são muito fortes e aí já eram todos caras que andavam muito rápido. Felizmente eu aproveitei bem a primeira volta e consegui terminar na terceira posição. Aí eu já deixei muito cara bom para tras como o Jason Thomas, Ryan Clark , James Povolny. A gente ficou muito contente e já comemorou que o primeiro objetivo, de entrar para a final, estava cumprido. O Dimas e o Pérsio (da ASW Racing) vibraram muito e por incrível que pareça tinha um grupo de 5 brasileiros que comprou passagem e foi pra lá quando ficou sabendo que eu ia correr. E depois apareceram alguns pilotos daqui como o (Rodrigo) Torrealba e o Márcio Campos que tem negócio lá. No início ficou todo mundo meio acanhado, mas a hora que viram que eu estava andando forte e encarando os caras lá todo mundo ficou bastante empolgado. A gente já fez uma festa particular a hora que vimos que iamos para final, só que eu ainda queria mais (risos).


foto: Sebastião Lago Jr.
www.tribooffroad.com.br/moto
Eu já tinha comigo que podia ir bem na final, mesmo estando um pouco cansado. Porque foi uma semana bem cansativa. Não tive tempo de descansar. Domingo fiz o Paulista (etapa final em Atibaia) e cheguei lá já peguei a moto, treinei na terça, treinei na quarta, um calor infernal. E Glen Helen é no meio do deserto, um negócio que pegou lá foi o calor, mas acho que até consegui provar que estou com um bom preparo físico porque eu consegui entrar em boas condições nas finais depois dos treinos e das classificatórias.

No Domingo eu já tinha feito dois treinos, e aí é com todo mundo junto inclusive os dez primeiros. Aí que eu me surpreendí quando fiz 10º tempo. Se você olhar o tempo do Carmichael a distância é absurda, mas se ver o Tortelli ou Vuillemin era coisa de um segundo e a gente sabe que são caras que estão andando alí em terceiro, quarto.

MotoX: E aí como é que foi na hora da corrida?

Bom, na corrida eu já entrei meio que empolgado e falei "vamos pro tudo ou nada" (risos). Aí acho que foi o primeiro erro que que eu cometí no final de semana. Larguei bem agressivo e como nas classificatórias fui ultrapassando na primeira volta até que eu estava mais ou menos em décimo. Aí o Joaquim Rodrigues cruzou na minha frente e eu me assustei freiei forte e tomei um tombo que está doendo até agora (risos). Perdí quase um minuto depois caí de novo, levantei, até passou pela minha cabeça a idéia de abandonar, mas mantive a vontade de continuar e fiz uma boa prova. Recuperei posições até o 20º lugar, só que no tombo minha embreagem foi para baixo e tinha hora que eu não conseguia alcançar ela. Até que na última volta deixei a moto morrer e perdí umas cinco posições.

MotoX: A gente acompanhou ao vivo na Internet e viu que você ficou para tras na última volta.

É, Na última volta eu estava brigando pela 19ª posição e deixei a moto apagar, e já estava sem forças, acabei perdendo várias posições alí. Foi uma prova dolorida essa aí (risos), mas foi bom porque se você comparar pelo tempo de volta, era um tempo que me dava a 12ª, 13ª posição. Então se não fossem os erros que eu cometí e mesmo os tombos que acabam te minando o preparo físico, te deixam dolorido, eu consegui rodar bem rápido e tive uma boa prova.

MotoX: Na primeira classificatória parece que teve um comentário do locutor que se surpreendeu de um brasileiro estar lá?

Foi na classificatória do Domingo, que já é considerada uma classificatória forte. Eu larguei atrás e vim passando todo mundo e ninguém me conhecia. O pessoal me falou que o locutor falou meio enrolado "Jorrrge Balbi" e procurou, procurou... "É do Brezil, Brezil!!" O próprio locutor vibrou bastante e o pessoal que estava junto comigo também. Foi legal que chamou um pouco de atenção e me deu um certo reconhecimento lá. Fiquei satisfeito com aquilo.

MotoX: E a segundo bateria como é que foi?


"Em 2000 tomei volta do Mike Brown, desta vez coloquei dois segundos nele"
Aí, um intervalo curto... eu estava muito cansado, procurei arrumar a moto, sentia muita dor ainda. Na volta de apresentação eu fiquei assustado de ver a pista, muito buraco!!! A segunda bateria da 125 deixou a pista bem destruida. Fiquei até assustado. Parei na descida e ví que não tinha nenhum caminho sem buraco. Aí que eu tomei a decisão de fazer uma prova mais consistente, sem arriscar tanto, pra ver se conseguia terminar numa boa colocação.

Larguei atrás de novo... aquele negócio do asfalto e também as motos muito fortes... Vim recuperando posições, larguei em 28º, cruzei a primeira volta em 26º, a segunda já passei em 16º e na terceira volta em diante eu passei a brigar com o Ryan Clark e a gente foi ganhando posições junto. Cheguei a andar em 12º até os 20 minutos de corrida. Aí fui para cima do Ryan para tentar passar ele e numa das descidas ele me deu uma porrada, acabei saindo da pista e perdí duas posições de uma vez, aí já estava muito cansado e resolví ficar por alí, manter minha posição. Depois dos 20 minutos briguei com o Jason Thomas, a gente chegou a revezar 14º, 15º e acabei fechando a prova em 15º o que foi um resultado positivo demais. Fico feliz por ter conseguido esse resultado que acho que é para todo o Brasil comemorar. É um resultado que representa o nosso motocross e não consegui sozinho.

MotoX: E Qual foi a sensação de marcar pontos no AMA Motocross? 

Lá o 20º lugar é muito disputado. Ranquear nos Estados Unidos é um negócio muito valorizado. É muito difícil e todo mundo quer. O cara que consegue aí sim é considerado um piloto profissional. Vou dar de exemplo, uma coisa bem simples: uma pista que eu fui treinar lá custa US$20,00. O piloto que é ranqueado pela AMA não paga nada.

MotoX: Durante a semana que você treinou lá chegou a andar em Glen Helen? 

Não, eu não consegui treinar em Glen Helen, foi uma coisa que eu tinha programado, mas a etapa do Paulista foi cancelada em Agosto, acabou indo para Setembro. Tive que sair correndo de Atibaia e ir para lá.

Nos treinos lá foi onde eu mais me surpreendi, a prova foi boa claro, mas nos treinos com uma pista mais curta e mais fácil eu me sentia mais próximo de pilotos de lá como Michael Byrne (oficial Kawasaki) e Nick Wey (Suzuki) que eu conseguia andar junto por quinze minutos, na mesma balada. A gente via que despertava interesse lá, o pessoal perguntava quem é esse cara? É francês? Logo imaginavam que era europeu, aí você falava que era brasileiro o pessoal se surpreendia. Pô brasileiro! Mas como é que é o Motocross lá?

MotoX: Olhando os outros pilotos andarem lá, quem te chamou a atenção?

Quem realmente me surpreendeu, são os mesmos que surpreendem aqui acompanhando pela TV. O Stewart é muito legal, tem uma tocada que é um show. O Carmichael impressiona pela eficiência: já com 20 minutos o cara coloca 45 segundos no Chad Reed, é um negócio assim... difícil de calcular. Você fala: esse cara aí tem alguma coisa a mais. Os outros você vê que andam muito. Tortelli andou muito, Chad Reed também com uma tocada bem limpa, mas o Carmichael me impressionou, mais até do que mundiais que eu já tinha visto ou o cara que eu copiava tudo como o Stefan Everts.

MotoX: Em relação ao Mundial que você correu aquí você acha que os pilotos lá fora não evoluiram tanto quanto você?

Com certeza não. Eles continuaram evoluindo, mas como eu tinha muito mais para crescer do que eles... entendeu? Nós estávamos num nível muito inferior. O Brasil cresceu muito daquela época para cá, não só na velocidade de pilotagem mas no preparo mental e maturidade também. Acho que isso faz muita diferença na hora de correr lá fora. Uma coisa é você pegar o Mundial no Brasil como referência e uma prova fora do Brasil. No Brasil você já conhece a moto, a pista tudo. Fora já é outra pista, outra moto, clima diferente e por isso eu acho que os resultados foram positivos. Mesmo em corridas no Brasil com resultados próximos ao meu a gente sempre esperava um resultado melhor. Eu mesmo já tinha me decepcionado outras vezes, mas dessa vez eu fiquei bastante satisfeito.

No Mundial 125 que eu corri no Brasil em 2000 cheguei em 17º mas tomei uma volta do Mike Brown. Desta vez eu coloquei dois segundos em cima dele! Tudo bem que ele estava de 250F, mas é absurda a evolução que tivemos aqui. Lá em Indaiatuba se eu estivesse de 500cc ele colocaria 4 segundos em mim. Nessa situação, lá eu era dois segundos mais rápido que ele numa pista que ele está acostumado, por aí dá para perceber que o nível está legal e que a gente está no caminho certo.

MotoX: E com relação ao equipamento, como foi a preparação da moto com a qual você competiu lá?

Olha, eu levei as minhas suspensões daqui mas... uma coisa eu tenho que te falar: as pistas que a gente tem no Brasil não têm nada a ver com as de lá. Achava que minha suspensão ia ser boa lá, mas não conseguí usá-la. A velocidade era tão maior, a pista tão arenosa que a suspensão ia no fundo o tempo inteiro e não consegui usar. A moto que peguei, do Ludo (Ludovic Boinnard piloto francês residente nos Estados Unidos que participa de provas no Brasil como o Rally dos Sertões), tinha a suspensão preparada, ele é muito mais pesado que eu, tinha molas mais duras e aí acabei correndo com a suspensão dele mesmo que estava melhor preparada para as condições de lá.

Quanto a parte de motor era bem parecida com a minha moto aqui, talvez ela tivesse um motor mais forte em alta, só que a minha moto tinha mais baixa, talvez aí uma das razões de minha dificuldade com as largadas, além do cimento. No geral era uma moto boa, se comparada entre o 20º e o 40º era uma moto que estava na média, agora se comparar com os vinte primeiros era uma moto bem inferior.

MotoX: Além desse presente da ASW você também recebeu mais um prêmio de um dos seus patrocinadores.

É, ja faz tempo que eu corro com o apoio da CTi aqui no Brasil e o Hugo (representante brasileiro) conseguiu para mim um aparelho sob medida com a fábrica nos Estados Unidos. Eu corria com o modelo Edge e agora tenho o CTi2 sob medida. Foi legal porquê eu conheci a fábrica lá e o pessoal é muito profissional, muito organizado. É uma coisa que aconselho todo mundo a usar, é um negócio que é caro, porém segurança não tem preço. 


Concentração antes da largada em Juiz de Fora


MotoX: Esse ano você foi novamente campeão tanto Brasileiro como Paulista. Então, chegou a hora de partir para uma carreira no exterior?

Com certeza, como você mesmo falou eu tive duas temporadas praticamente perfeitas, vencí os dois principais campeonatos do país e estou liderando o latino-americano de 125, onde se correr tudo bem também posso fechar o campeonato. Então estou muito satisfeito de ter realizado um sonho, conquistado o título brasileiro na 250cc, por estar na equipe que estou, que é a Honda. Pois é, como todo mundo está falando também é um sonho meu competir fora. Lógico que não depende só da minha vontade, mas não vou ficar parado esperando cair do céu. Estou trabalhando para isso, conto com a ajuda dos patrocinadores que eu já tenho e outros que quiserem apoiar também, entendeu? Eu quero conseguir correr ano que vem no exterior. O mais certo é nos Estados Unidos, mas existe a possibilidade da Europa também, o que eu quero é continuar crescendo, continuar aprendendo para num prazo mais longo estar andando alí entre os dez primeiros no Americano ou no Mundial. Quem sabe com um bom trabalho numa boa equipe, porque não sonhar com uma posição entre os cinco? Mesmo sendo um piloto novo eu acredito que tenho condição para isso.

MotoX: Isso aí ampliou muito seus horizontes daqui para frente, não é? 

É, ampliou muito. Ainda sou um piloto novo que tem toda uma carreira pela frente. Também já tenho muita experiência. Tudo bem que é só dentro do Brasil, mas isso é um negócio que conta também. Só correndo, errando, perdendo corrida e campeonato que você aprende a lidar com determinadas situações. Isso é assim no Brasil, no americano, no europeu, no mundial e qualquer piloto passa por isso.

MotoX: Sua última temporada de 2 tempos foi há dois anos quanto terminou como vice-campeão. Com o regulamento atual você acha que ainda é possível vencer de 2 tempos?

Acredito que é possível sim ainda ser competitivo de 2 tempos. Em 2002 eu cheguei na final com chances de ser campeão contra o Massoud, que corria de 4 tempos. Acho que isso é uma questão de preferência pessoal do piloto. Lógico que no Brasil, principalmente com o tipo de pista que a gente tem de chão batido e de alta velocidade as 4 tempos acabam levando vantagem. Acho que atualmente é mais difícil ser competitivo com uma dois tempos, mas em certas situações elas ainda levam vantagem. Ouvi dizer que no supercross nos Estados Unidos todo mundo na 250 vai correr de dois tempos.

Agora, é uma coisa que depende das fábricas, se elas pararem de investir nas dois tempos, daqui a três ou quatro anos não vai dar mais para correr com elas. Por outro lado eu ouvi falar que na Europa, as fábricas e principalmente os promotores de campeonatos estão preocupados com isso, porquê as 250F estão ficando muito caras para competir com elas. Em Glen Helen por exemplo a categoria 250 encerrou as incrições com cem pilotos, na 125 não, ficou com 80 e dessas 80 tinham só umas cinco dois tempos. Os caras estão reclamando que a 250F é muito cara e com a 125 você não consegue ser competitivo, então as fábricas estão pensando em algo para melhorar isso, para não deixar que o esporte fique um negócio muito, muito elitizado.

MotoX: E você conversou com alguns pilotos lá fora? Estrangeiros que estão nos Estados Unidos?

Falei um pouco com o Joaquim Rodrigues. Na verdade tenho que parabenizar o Maguila (trabalhando com o David Vuillemin) e o Neilton (com Joaquim Rodrigues) que estão fazendo um trabalho muito bom lá, estão sendo reconhecidos lá fora. O Maguila me deu uma ajuda muito boa. O que os outros pilotos falaram? É questão só de ir para lá, se adaptar, que não é impossível, entendeu? A questão é você estar no lugar certo, com o equipamento certo. Agora uma coisa é certa: não é pra qualquer um, tem de ter muita vontade para trabalhar. Se aqui eu trabalho muito, lá vou ter que trabalhar três vezes mais.

Para finalizar qual é o recado que você quer dar para os visitantes do MotoX?

Queria agradecer muito a ASW pelo que eles investiram. Além do investimento, o mais importante é o cara acreditar em você e sou muito grato a isso. Os caras acreditaram, foram lá dentro da pista torcer, acho que isso faz a diferença.

Outra coisa que eu quero falar é que nosso campeonato está no caminho certo, tem muita coisa funcionando, acho que a CBM está fazendo um ótimo trabalho, mas a gente tem que conversar sobre o nosso tipo de pista. Não estou malhando, não é nada disso, mas eu quero fazer uma crítica construtiva: acho que a gente tem de mudar nosso tipo de pista. Acho que uma coisa que está funcionando bem a gente não tem que ter vergonha de copiar. Os americanos têm um esporte em evolução, por quê não copiar? 

Acho que as nossas pistas estão aquém do que os nossos pilotos têm nível para andar. Uma pista como essa é muito bonita para o público, você sente prazer em andar, mas não testa se o cara está bem preparado. Testa quem tem coragem para acelerar e quem tem um bom motor, nem suspensão você usa. E a maioria das nossas pistas são assim. Acho que é umas das principais mudanças para a gente diminuir a distância pro nível lá de fora. Eu mesmo sou um cara que tive que aprender a correr nas pistas do Brasileiro. Eu sempre gostei de treinar em pista esburacada, com canaleta, mais travada e tive que mudar para ter bons resultados.

Gostaria de agradecer todos os meus patrocinadores atuais, quero agradecer a Honda por ter colocado em minhas mãos talvez a melhor moto do circuito, a Honda não mediu esforços e investimentos para me dar o melhor equipamento, fico muito orgulhoso de estar correndo por ela no Brasil. Quero agradecer muito a Mobil, a Pirelli, a ASW, CTi, Polaco Motos, Recreio WV, Moto BH e Máster Freios. Tenho que agradecer porque com o apoio destes patrocinadores eu tenho condições de trabalhar. Acho que todos esses resultados não são meus, são muitas pessoas que trabalham junto. Minha família, meu mecânico e também todas as pessoas que torcem, eu tenho que agradecer bastante.

Última pergunta. E sua irmã (Mariana Balbi), não quis ir correr lá também?

Ela quer e eu quero levar ela. É um sonho que a gente tem também, mas sabemos que é caro. A minha viagem custou algo em torno de US$4.000 a US$5.000 e é um investimento alto para você fazer uma única corrida. Mas eu tenho certeza que quando tivermos oportunidade a gente vai levar ela para correr fora. Eu ví algumas mulheres andando lá e tenho certeza que ela tem nível para andar bem, porquê aqui ela corre com homem e lá tem competição só para mulher. É uma coisa que a gente quer: testar esse nível dela lá fora também. 


Em breve entra no ar o site do piloto: www.balbiteam.com.br






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